Expecto Patronum: Lições de Harry Potter Para Organizações de Justiça Social

Escrito por Chris Crass e originalmente publicado por Zabalaza Books, em 19 de Janeiro de 2014.

Disponível em https://zabalazabooks.net/2014/01/19/expecto-patronum-lessons-from-harry-potter-for-social-justice-organising/


Você já sonhou em ser um membro de uma organização de justiça social intergeracional como a Ordem da Fênix? Você quer que Dumbledore seja seu mentor?

Os dementadores já o esgotaram ao ponto de você duvidar de sua capacidade de enfrentar os Voldemorts do nosso mundo? Você se pega analisando o Exército de Dumbledore em busca de lições sobre o desenvolvimento de uma visão, cultura, liderança e organização libertadoras?

Eu também. Vamos desenvolver nossa magia, construir nosso movimento de libertação e derrotar os Voldemorts do nosso mundo. Encontro você na Sala Precisa e, até lá, aqui estão minhas principais lições de Harry Potter para organizações de justiça social.

1. O Princípio Voldemort dos Sistemas de Opressão e Como se Libertar

Voldemort e os Comensais da Morte são uma droga, e eles querem impor a supremacia sangue-puro no mundo mágico como um meio de consolidar seu poder. Sua estratégia segue uma lógica familiar. Organize a sociedade em classes de acordo com suas diferenças biológicas socialmente percebidas. Criminalize aqueles que estão à margem, os nascidos de pais trouxas, como a Hermione. Posicionem-se como defensores da Tradição e da Ordem Natural. Divida a sociedade de acordo com diferenças biológicas socialmente percebidas e lealdade política. Use o medo e o ódio para enfraquecer os laços de solidariedade em toda a sociedade, ao mesmo tempo em que une a direita. Lute contra a esquerda, assuma o poder e refaça o mundo à sua própria imagem. Desanimou? Mas há mais, e aqui é onde está o insight.

Assim como muitos de nós chegamos ao ativismo através da nossa crescente conscientização sobre as injustiças sociais, como a desigualdade econômica, guerras, o sexismo e o racismo, Harry entra no ativismo através de sua crescente consciência do mal de Voldemort. Mas com o passar tempo, Harry percebe que Voldemort também está dentro de sua cabeça. Embora nós, que somos ativistas, podemos e devemos ser alfabetizados sobre como a supremacia branca cria uma profunda disparidade de acesso a recursos como habitação, saúde e educação, também descobrimos que a supremacia branca está dentro de nossas cabeças - para aqueles que são pessoas de cor, como inferioridade internalizada, e para aqueles que são brancos, como superioridade internalizada. Voldemort, como os sistemas de opressão do mundo real que enfrentamos, é ao mesmo tempo uma força no mundo que estrutura nossa sociedade e que está dentro de nossas cabeças.

O grande líder antiapartheid da África do Sul, Steven Biko, disse certa vez: “A arma mais poderosa do opressor é a mente dos oprimidos.” Se os oprimidos se enfrentam apoiados em diferenças de raça, gênero, capacidade, status de cidadania, sexualidade, e assim por diante, e se os oprimidos também acreditam que não há alternativa - que eles são incapazes de fazer mudanças substanciais e são incapazes de se autogovernar - então os oprimidos preservarão a lógica e as instituições de sociedades profundamente desiguais e injustas.

Para efetivamente enfrentar Voldemort em seu mundo, Harry deve se conscientizar sobre Voldemort em sua cabeça e resistir a sua influência. A influência de Voldemort leva Harry para a batalha no Ministério da Magia, o que resulta na morte de Sirius. É a influência de Voldemort que também alimenta a raiva de Harry, que às vezes isola Harry de seus companheiros. Quando Harry desafia diretamente Voldemort em seu mundo, Harry é capaz de libertar sua mente da influência de Voldemort. Por outro lado, enquanto Harry se torna mais consciente de sua conexão com Voldemort, ele é capaz de obter insights sobre a lógica e os planos de Voldemort. Neste momento, Harry tem um ápice de consciência, se tornando também uma importante introspecção sobre a nossa internalização da lógica dos sistemas de opressão. Através de reflexão e conscientização, podemos extrair lições sobre como a opressão opera e usar essas lições para ajudar a desenvolver um movimento antirracista, feminista, de justiça da deficiência, libertação queer e transgênera, fundado na classe trabalhadora anticapitalista (também conhecido como a Esquerda).

Como organizadores e líderes de justiça social, a responsabilidade recai sobre nós para ajudar mais e mais ativistas a entender o mundo de poder em torno deles e suas raízes históricas, perceber como a socialização e classe na sociedade impactam nossa consciência e entender sobre nossa própria descolonização pessoal dos sistemas opressores como parte de lutas coletivas pela justiça social e igualdade estrutural. Devemos ajudar uns aos outros a nos tornarmos conscientes dos meios como Voldemort entra em nossas cabeças e, juntos, trabalhar para nos libertar.

2. O Poder do Amor Como Prática da Liberdade

Depois que Dumbledore e Voldemort duelam no Ministério da Magia, Voldemort infiltra a mente de Harry, e diz a Dumbledore e Harry que a derrota deles é iminente. Voldemort declara que os esforços de Harry vão fracassar e, em seguida, enche sua cabeça com imagens dos horrores que cobrirão o mundo. Enquanto Harry luta angustiado, deitado no chão, Dumbledore sussurra para ele: “Harry, não são as semelhanças entre vocês [com Voldemort, ou seja, o heteropatriarcado capitalista da supremacia branca]. São as diferenças.” Naquele momento Harry vê Hermione, Rony, Gina e outros entrarem na sala e sua mente se preenche com imagens de abraços amorosos com sua família e amigos, e com sua amada comunidade. Nesse momento, Harry responde a Voldemort: “Você é o fraco e nunca vai ter amor ou amizade. Eu tenho pena de você.” Ao se reconectar com seus valores e sua comunidade, Harry acessa o poder do amor, repele Voldemort, e encontra coragem para lutar.

A acadêmica feminista, socialista, antirracista bell hooks fala do amor como a prática da liberdade. O que estamos enfrentando é intimidante e, às vezes, vozes em nossas cabeças nos dizem que seremos derrotados ou mesmo que já fomos. hooks nos pede para trabalhar contra a injustiça no espírito de Dr. King, que disse: "Nosso objetivo é criar uma comunidade amada e isso exigirá uma mudança qualitativa em nossas almas, bem como uma mudança quantitativa em nossas vidas." Muitas vezes Harry se esforçou para ver o poder do amor, mesmo sua motivação sendo vingança e raiva. Enquanto a raiva o levou para a luta, da mesma forma que leva muitos de nós para o trabalho de justiça social, ela não conseguiu sustentá-lo ou, em última análise, ajudá-lo a alcançar seus objetivos maiores.

Uma das imagens recorrentes de Harry Potter é sua mãe Lily, em pé  entre seu filho recém-nascido e Voldemort. O sacrifício de Lily foi um poderoso ato mágico que acaba salvando Harry. O amor da mãe e do pai de Harry era uma fonte de poder que o curava e o encorajava. Quanto mais ele se abria para o amor de seus pais, mais ele era capaz de agir poderosamente a partir desse amor. Em nosso movimento de justiça social, quando estamos cansados, exaustos e abatidos, devemos deixar que o amor de nossos ancestrais nos cure e nos encoraje. O maior dos nossos líderes e organizadores falou em trabalhar por um mundo melhor para as gerações que virão. Nós somos aqueles por quem eles lutaram. Na medida em que estamos desconectados desse amor e de nossa própria capacidade de amar é o quanto somos influenciados por Voldemort.

"Sua mãe morreu para salvá-lo", explicou Dumbledore. “Se há uma coisa que Voldemort não pode entender, é amor.” É fundamental que estejamos afiados sobre as visões para as quais trabalhamos, os valores no qual trabalhamos e o amor que temos por nossos amigos, famílias e comunidades com as quais trabalhamos. Embora Voldemort possa estar em nossas cabeças, embora possa haver maneiras pelas quais nós mesmos reproduzimos sistemas de opressão, embora haja muitos erros ao longo de nossa jornada, como somos diferentes desses sistemas de opressão, como amamos, é o que é de extrema importância.

3. Expecto Patronum – Fazendo Nossa Luz Brilhar

Um feitiço Patrono evoca um guardião protetor, que toma a forma de um animal que pode repelir Dementadores. O encantamento, como explica o professor Lupin, só funcionará se você estiver se concentrando em uma memória muito feliz, que mais tarde aprendemos que deve ser uma memória enraizada no amor. Os dementadores são criaturas que guardam prisões, e nas palavras de Lupin, “drenam a paz, a esperança e a felicidade do ar ao redor deles… todos os bons sentimentos, todas as lembranças felizes serão sugadas de você. Você ficará com nada além das piores experiências de sua vida.” Os dementadores estão à nossa volta, desde analistas da Fox News até trolls da Internet que enchem a seção de comentários em blogs e no Facebook com xingamentos e insultos. Os dementadores são também as vozes em nossas cabeças que Biko nos alertou, vozes destinadas a nos manter impotentes.

O lançamento de um Patrono mobiliza o amor como a prática da liberdade que nos conecta ao nosso poder e o expressa no mundo. Todos nós devemos trabalhar para nos conectar ao nosso próprio poder interior, às nossas memórias mais felizes e à nossa própria vocação para uma ação corajosa. Como organizadores da libertação, nossa responsabilidade é fomentar a cultura e as práticas que iluminam o mundo com nossos Patronos coletivos. Quando as pessoas comuns no movimento pelos Direitos Civis cantaram “Esta é minha pequena luz, Eu vou deixá-la brilhar.” Na frente de policiais violentos, cães de ataque e prisão, eles se conectaram a um poder coletivo mais profundo que não só deu eles a coragem de agir, mas comunicaram o poder do amor sobre o apartheid de Jim Crow, para o mundo.

Podemos criar uma ampla variedade de práticas e rituais coletivos que nos ajudam a adotar um poder de amor libertador. Esse poder afasta os Dementadores e nos ajuda a ser ousados pela justiça. Podemos também criar práticas e rituais pessoais para nos conectar ao nosso poder, para nos ajudar a lançar nosso próprio Patrono. Reserve um momento para reavaliar a si mesmo, já que experimentou uma alegria profunda, um poder libertador e a ternura da humanidade. Agora vá adiante e deixe sua luz brilhar!

4. Hogwarts, A Ordem da Fênix e a Construção de um Movimento Por Justiça

Hogwarts é onde jovens bruxas e bruxos são educados e levados para o mundo mágico. É aqui que eles podem ser quem são, desenvolver seus poderes e estar com colegas, amigos, professores e mentores. Hogwarts, como muitas escolas ao redor do mundo, é o principal lugar onde novas pessoas entram em contato com contra-narrativas da história, interagem com um grupo mais amplo de pessoas do que antes, aprendem valores de igualdade e democracia e, freqüentemente, através de grupos como o Exército de Dumbledore, tem oportunidades de se juntar a grupos colocando ideias em ação em seu mundo.

Enquanto uma pluralidade de ideais existem em Hogwarts (incluindo políticas discriminatórias contra abortos e criaturas mágicas não humanas), a instituição é, no entanto, profundamente influenciada por seu Diretor, Dumbledore, um educador queer, crítico e um líder do anti-Voldemort (orientação coletiva anti-imperialista) Ordem da Fênix. Com o passar do tempo, Hogwarts se torna um local chave da luta entre os Comensais da Morte de direita e a Esquerda. Há os esforços de Dolores Umbridge para assumir Hogwarts para reprimir a oposição a Voldemort e às aulas de Defesa contra as Artes das Trevas (isto é, Arizona banindo as aulas de Estudos Étnicos em conjunto com a legislação anti-imigração destinada a enfraquecer as comunidades de cor da classe trabalhadora). Então Severus Snape assume como diretor sob o governo de Voldemort. A luta por Hogwarts é, em última análise, uma luta sobre como os valores moldarão as compreensões do senso comum da sociedade.

Na véspera do confronto final, a esquerda retoma Hogwarts quando o exército de Dumbledore se une à Ordem da Fênix e na luta pelo poder, todos, independentemente de filiação prévia ou neutralidade, devem decidir de que lado eles lutarão. À medida que a professora McGonagall avança para defender Harry e derrotar Snape, todos os outros professores, juntamente com os estudantes das casas Grifinória, Lufa-Lufa e Corvinal, se unem apoiando o movimento de libertação. Em questão de minutos, com um novo poder unido liderado pelas forças de esquerda, os agentes de Voldemort na administração e os simpatizantes estudantis na casa Sonserina, são destituídos, marginalizados e removidos. Com a cidade vizinha de Hogsmeade, Hogwarts se torna um forte do movimento anti-Voldemort, e o poder da instituição e de suas comunidades (dos soldados de pedra aos ex-professores neutros, estudantes e moradores da cidade) estão alinhados com a esquerda e em movimento para revidar.

Seis lições chaves nascem para o nosso movimento. Primeiro, devemos avaliar as instituições na sociedade, determinar quais têm o potencial mais libertador e apoiar ativamente os esforços para governá-las pela esquerda e mobilizar seus poderes para promover a justiça social. Através do nosso trabalho, nossos valores podem moldar as instituições e influenciar os entendimentos de senso comum na sociedade.

Em segundo lugar, precisamos de organizações autônomas de esquerda, como a Ordem da Fênix, para nos manter guiados para uma visão mais abrangente, unir pessoas em muitas instituições e comunidades com valores e estratégia compartilhados e tomar medidas além das restrições que as posições institucionais exercem sobre nós. Por exemplo, Kingsley Shacklebolt deve desempenhar um papel público limitado no combate contra Voldemort através de sua posição no Ministério da Magia, mas ele é capaz de compartilhar informações reunidas no Ministério com a Ordem da Fênix e é capaz de tomar medidas contra Voldemort como um membro da Ordem. E mesmo estando no Ministério, Kingsley e a Ordem priorizam a ação direta como sua principal estratégia de mudança.

Terceiro, precisamos estar atentos aos pontos de entrada para que as pessoas se envolvam ativamente nos esforços para justiça social. Devemos apoiar esses pontos de entrada com pessoas que têm experiência e conexões no movimento mais amplo, para que quando novas pessoas percebam o feminismo, o anti-racismo, a justiça econômica, a justiça da deficiência, a libertação queer e assim por diante, sejam adequadamente apoiadas como ativistas promissores. As escolas são pontos de entrada onde grandes organizações nacionais e locais de estudantes e dezenas de milhares de professores fantásticos prosperam. Precisamos de mais organizações como a Ordem da Fênix para ajudar a conectar novos ativistas altamente motivados e comprometidos (como Harry, Hermione e Ron) com ativistas experientes e uma comunidade multi-geracional maior de pensadores e ativistas da justiça social.

Quarto, haverá momentos, como a batalha em Hogwarts ou o Occupy Wall Street, onde um grande número de pessoas, antes não envolvidas, tomarão partido, vão se envolver e lutar de novo. Eles podem não estar todos envolvidos pelas mesmas razões que a Ordem, mas seu envolvimento é o que transforma a luta em um movimento de massas potencialmente capaz de fazer as mudanças sistêmicas pela justiça que queremos e precisamos. Ao fazermos o trabalho cotidiano de organização da justiça social, devemos permanecer ágeis em tempos de envolvimento em massa, para que possamos ser expansivos e, ao mesmo tempo, ajudar a levar a liderança a uma nova fase de participação em massa.

Quinto, haverá divisões entre nossa oposição. O amor de Severus Snape por Lily Potter o converteu de membro do círculo íntimo de Voldemort a membro-chave, se não polêmico, da Ordem. Draco Malfoy, depois de anos sendo o arqui-inimigo de Harry, não entrega Harry a Voldemort na Mansão Malfoy. A mãe de Draco, Narcisa, corajosamente protege Harry na hora final, mentindo diretamente para Voldemort, um movimento que leva os Comensais da Morte a sua derrota final. Para Snape, é amor por Lily, não pela Ordem e sua missão, que o converte. Para os Malfoy, a motivação é a percepção de que o governo de Voldemort trará miséria para sua família, apesar de sua mesma visão política. A lição é que os corações da nossa oposição podem mudar e que uma vitória é ganha não apenas quando eles concordam com a nossa política, mas quando, de alguma forma significativa, eles transcendem e nos ajudam a seguir em frente.

Em sexto lugar, organizações de justiça social como a Ordem e o Exército de Dumbledore são veículos críticos para colocar nossas políticas e valores em prática, causar impactos no mundo, trazer novas pessoas para o movimento, passar história e lições, fornecer apoio e camaradagem uns aos outros e desenvolver uma visão, estratégia e tática ao longo do tempo, à medida que regressamos e aprendemos com nossos erros e sucessos.

5. A Importância da Liderança Feminista de Hermione Granger

Eu amo a Hermione. Como não amá-la? Ela é uma bruxa brilhante, dedicada a desafiar a injustiça, uma leitora ávida, e ela é, essencialmente, o catalisador que transforma a luta anti-Voldemort em um movimento enraizado nas aspirações, urgências e poder dos jovens. Ela é, de fato, a Ella Baker do mundo mágico. 

No quinto livro, a situação parece sombria. Com o poder do centro-direita crescendo através de Umbridge e o poder fascista direito crescendo sob Voldermort, a Ordem da Fênix está na defensiva e o padrinho de Harry, Sirius, instrui: "Cabe à sua geração agora".

Harry vê a luta contra Voldemort e os Comensais da Morte essencialmente como sua própria missão pessoal. É Hermione quem entende que a luta deve estar enraizada no poder da comunidade de base. Com a Umbridge impedindo os estudantes de usar magia em suas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, Hermione vê a oportunidade de construir esse poder. Usando seu relacionamento com os alunos de Grifinória, Lufa-Lufa e Corvinal, Hermione reúne trinta alunos para iniciar uma aula secreta ensinada por Harry.

Liderança é muitas vezes considerada como atos corajosos por indivíduos, atos muito parecidos com aqueles tomados por Harry. No entanto, os movimentos de base são construídos através da liderança de pessoas como a organizadora dos Direitos Civis Ella Baker, uma pioneira que construiu relacionamentos com as pessoas e que ajudou as pessoas a acreditarem em suas próprias habilidades para resolver coletivamente os problemas diante deles. Hermione é frequentemente considerada brilhante, mas raramente como líder. Na verdade, ela é uma das líderes mais importantes da série. Ela tem uma liderança feminista de construção de poder com os outros, e não para eles. Sua liderança é baseada no respeito conquistado através de anos de construção de relacionamentos positivos, fornecendo apoio e encorajamento, e atuando de forma consistente de maneira fundamentada. Finalmente, a liderança de Hermione vem de sua experiência de ser uma forasteira, uma bruxa nascida trouxa, que enfrentou a intimidação quando chamada de "sangue-ruim" por Malfoy, e usou sua aparência para entender melhor como o sistema funciona e com quem ela é aliada.

Muitas vezes há uma tentativa de fazer parecer que os líderes nasceram com todas as respostas certas. O genialidade de Hermione é que ela, faz fortes tentativas de praticar sua política e aprender com elas no processo. Por exemplo, Hermione mudou-se para “libertar” os elfos domésticos através da S.P.E.W. (Sociedade Élfica para a Promoção do Bem-Estar). O esforço fracassou porque, apesar de suas intenções serem puras, o esforço de Hermione para salvar os elfos domésticos foi sem sua contribuição, participação ou  liderança dos elfos. Por exemplo, Hermione poderia ter apoiado a voz e a liderança de Dobby em contar sua própria história e compartilhar suas razões para querer ser livre. No entanto, S.P.E.W. deu voz a uma política de solidariedade e respeito por todas as criaturas mágicas. Embora a abordagem de S.P.E.W. tenha falhado, os esforços de Hermione amadureceram no processo. Ela aprendeu sobre as tentativas do Ministério da Magia de tirar a autonomia e a terra dos Centauros, e sua expressão de solidariedade às demandas dos centauros levou a uma aliança criticamente importante.

Hermione rotineiramente expressou que a melhor perspectiva é saber o que está acontecendo, saber com quem podemos contar e sabe como reunir as pessoas, mas esses atributos por si só não foram suficientes para unir os alunos que ela reuniu no Exército de Dumbledore. Enquanto os alunos ouviam seu plano, surgiram rapidamente dúvidas sobre se Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado realmente estava de volta. Harry acaba dando um discurso enfático sobre como enfrentar Voldemort, com sua vida em risco, vendo seu amigo morrer, não é como praticar magia na sala de aula e que ninguém mais sabia como era essa experiência. A sala ficou em silêncio com o peso das palavras de Harry e então algo transformador acontece.

Hermione respondeu: "Você está certo, Harry: nós não estamos. É por isso que precisamos da sua ajuda. ”Ela fala em nome do grupo para  atingir três metas de uma só vez. Ela precisava convencer o grupo de que eles precisam dessa classe subterrânea. Ela queria que Harry entendesse que ele de fato precisa entrar nesse papel. E finalmente, Hermione reconheceu a negação coletiva e o medo na sala, e sabia que precisava confrontar seu próprio medo, publicamente, para que os outros pudessem fazê-lo privadamente. Hermione continuou: "Porque se nós vamos ter alguma chance de vencer ... (pausa) Voldemort ..." e a sala está pesada novamente, como pela primeira vez que alguém além de Dumbledore ou Harry passou pelo medo para dizer o nome de você sabe quem. Atuando com o respeito e a legitimidade de sua liderança baseada em relacionamentos, Hermione falou com coragem vulnerável, sua voz tremendo enquanto dizia Voldemort e, no processo, inspirava os outros a descobrir sua própria coragem. Nenhum deles duvidou de Harry daquele momento em diante e o Exército de Dumbledore nasceu. Hermione reuniu os estudantes, convenceu um líder relutante a se apresentar e demonstrou a coragem necessária para construir um movimento de resistência clandestina que provou ser a chave para a derrota final de Voldemort.

6. A Armada de Dumbledore e o Papel da Organização

Enquanto membros do Exército de Dumbledore treinavam durante uma de suas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, Harry ousou declarar: “Todo grande bruxo da história começou como nada mais do que somos agora: estudantes. Se eles podem fazê-lo, por que não nós?” Hoje, quando olhamos para os grandes líderes de movimentos de justiça social - Ida. B. Wells, William Lloyd Garrison, Malcolm X e Elizabeth Gurley Flynn - podemos ficar maravilhados e colocá-los em pedestais para serem idolatrados, em vez de buscar inspiração em seu exemplo para nos tornarmos extraordinários. Uma das dinâmicas de admirar indivíduos notáveis ​​e inspiradores é que as narrativas de suas vidas acontecem fora das organizações que ajudaram e apoiaram ao longo do caminho. Assim, ouvimos falar de Rosa Parks, enquanto uma mulher de meia-idade que estava cansada demais para se mover para a parte de trás do ônibus, em vez de Rosa Parks, a revolucionária que era a secretária da NAACP local que, poucos meses antes de sua mudança histórica, passou por um treinamento de ação direta não violenta no Highlander Center e abraçou o compromisso de utilizar o que aprendera.

Através das sessões subterrâneas formadas por estudantes do Exército de Dumbledore, um grupo de jovens bruxos e bruxos se tornou habilidoso com feitiços, aprofundou seu compromisso para a luta contra a direita e criou uma comunidade próspera de camaradas que incentivam e apoiam uns aos outros. O Exército de Dumbledore criou um espaço para o nascimento da práxis coletiva. A práxis é o processo de colocar as ideias em ação e extrair lições da experiência. Como Harry disse anteriormente, nenhum dos outros alunos teve a experiência de enfrentar Voldemort. Eles só tinham lições aprendidas em uma sala de aula. A Práxis está levando as lições das sessões práticas para a luta contra os Comensais da Morte, que é exatamente o que aconteceu quando Hermione, Rony, Harry, Gina Weasley, Neville Longbottom e Luna Lovegood enfrentaram os Comensais da Morte no Ministério da Magia. Liderança nasce de valores unidos com a experiência e é por isso que não é coincidência que Gina, Neville e Luna se tornaram os principais líderes do Exército de Dumbledore quando Hermione, Rony e Harry foram viraram clandestinos e Hogwarts foi tomada pelas forças de Voldemort.

A liderança é um processo dinâmico que se baseia no histórico e nas experiências das pessoas, mas também depende das escolhas e ações que essas pessoas realizam. Além disso, a liderança geralmente é desenvolvida através do apoio, incentivo e ensino de outras pessoas. Enquanto alguns de nós, como indivíduos, receberão esse incentivo de liderança, as organizações rotineiramente fornecem espaços para que mais de nós desenvolvamos nossa liderança. A liderança amadurece através da prática e, novamente, onde Harry, Hermione e Ron têm amplas oportunidades de praticar sua liderança, é o Exército de Dumbledore que cria oportunidades para que mais e mais pessoas pratiquem e amadureçam.

Por exemplo, a liderança da Gina certamente estava enraizada em ser criada em uma família da classe trabalhadora guiada pelos valores da Esquerda e uma prática de solidariedade (ganhando o rótulo de “traidores do sangue” de famílias de tendência de direita). Ambos pais de Ginny estão na Ordem desde os primeiros dias e quase todos os seus irmãos se tornam membros da Ordem ou do Exército de Dumbledore. É, no entanto, através de sua participação no Exército de Dumbledore que Ginny deixou de ser uma defensora da esquerda para ser uma líder no combate contra Voldemort. O Exército de Dumbledore criou um ponto de entrada e ela encontrou apoio para desenvolver seu poder mágico e agir. Ou olhe para Neville. Ele poderia facilmente ter sido considerado uma pessoa boa o suficiente, mas dificilmente um revolucionário; ainda no final, Neville é o líder corajoso que declara que a luta continua mesmo quando parece que Voldemort tenha assassinado Harry Potter. Da mesma forma, Luna era uma estranha esquisita, que era rotineiramente ridicularizada. Ela rapidamente se torna uma das consultoras mais importantes de Harry, dando-lhe insights críticos e orientações importantes. Um dos dons de Harry como líder é que ele não apenas a ouviu, mas ativamente conquistou sua amizade. No entanto, é através do Exército de Dumbledore que a perspectiva “pense fora da caixa” de Luna é capaz de ajudar a moldar a luta global de libertação, pois ela também se torna uma líder central que mantém a esperança viva durante o governo de Voldemort.

Outra dimensão importante da organização e dos esforços coletivos em geral é que eles podem, se quiserem, abrir espaço para que mais e mais pessoas desempenhem papéis importantes. Isso é particularmente importante para Ron e Harry. Nos primeiros anos, Ron ficou cada vez mais ciumento da personalidade e popularidade de Harry. Ao mesmo tempo, Harry se tornou, às vezes, egocêntrico. Isso geralmente acontece em nosso trabalho de justiça social. O ego, a inveja e a rivalidade podem muitas vezes prejudicar nossos esforços e destruir relacionamentos. Quando o Exército de Dumbledore tomou forma, Ron foi capaz de desempenhar importantes papéis públicos, trazendo outros para o grupo. Harry e Ron foram capazes de amadurecer além de suas disputas e se concentrarem nos objetivos maiores de seus esforços. Quando começaram a prestar atenção às necessidades das dezenas de estudantes do Exército de Dumbledore que estavam com fome de liderança e oportunidades, Ron e Harry abandonaram pequenos rancores e sofrimentos exagerados. A verdade é que a liderança, a organização, os esforços coletivos para a libertação são todos profundamente desafiadores e precisamos de nossos amigos e companheiros. Harry e Ron precisam um do outro, não apenas porque eles são mais fortes juntos contra Voldemort, mas porque o amor de nossa família, amigos e comunidades é a magia da vida e que o amor é o que nos faz enfrentar os desafios que se tornam gratificantes.

No final do Cálice de Fogo, Dumbledore desafia todos em Hogwarts a “Lembrarem do Cedrico. Lembrem-se, se chegar o momento em que você tem que escolher entre o que é certo e o que é fácil, lembre-se do que aconteceu com um menino que era bom, gentil e corajoso, porque ele se desviou do caminho de Lord Voldemort. Lembre-se de Cedrico Diggory”. As organizações de justiça social e as comunidades nos ajudam a apoiar umas às outras para fazer o que é certo, ao invés do que é fácil. Elas nos ajudam a viver nossos valores e a desenvolver o poder de base para iluminar os Voldemorts em nosso mundo e nos ajudar a expandir a justiça e a igualdade para todos. É importante unir esforços coletivos, apoiá-los, trabalhar com eles e ajudar a criar um ecossistema de organizações de justiça social, instituições, comunidades, equipes, famílias e relacionamentos que formam movimentos que podem vencer.

A Magia da Ação Pela Justiça Social

Para encerrar, vamos aprender com Harry, Hermione, Dumbledore, Gina e Neville. Vamos aprender com a Ordem e com o Exército de Dumbledore. E vamos concretizar a mágica da organização da justiça social para nos libertar dos Voldemort no mundo e em nossas cabeças. Vamos lançar nosso Patrono, vencer os Dementadores e estar em nosso poder. Vamos nos unir a outros para construir movimentos de base, construir organizações de libertação, tomar ação direta, cantar e dançar juntos e amar com todo o coração. Vamos criar mágica juntos e agir corajosamente em um lugar de amor pela libertação coletiva.

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