A Indiferença do Estudante Universitário

Escrito por Alberto Britos Muñoz e originalmente publicado no boletim da Federação Universitária de Buenos Aires, de março de 1918.

Disponível em http://americalee.cedinci.org/portfolio-items/boletin-de-la-federacion-universitaria/



Pode-se afirmar categoricamente que, com a exceção de uma honrosa e proeminente minoria, nossos estudantes
universitários carecem de ideais superiores. Eles só estão preocupados e obcecados por terminar os dolorosos
estudos o mais rápido possível para finalmente obter o tão sonhado diploma. O que rompe com essa monotonia
de baixa aspiração, com sua singularidade pitoresca, é a luta desenfreada de alguns para alcançar o dez, que é
conseguido, na maioria das vezes, com procedimentos especiais, completamente alheios do estudo severo dos
livros. Este combate incansável pela nota alta, que para muitos incautos supõe uma excelência digna de imitar
na vida universitária, não revela outra coisa senão a pobreza e o vazio espiritual. E assim como os que marcham
hipnotizados pelo símbolo do diploma, estes atravessam as diferentes faculdades com o gesto arrogante dos
falsos vencedores, mas absolutamente alheios aos inúmeros problemas que a vida apresenta e cuja solução
urgente interessa a todos igualmente.

Eles desconsideram tudo aquilo que não está vinculado aos estudos de suas especialidades ou aos seus interesses
imediatos, moldando assim, desde as salas de aula, o tipo unilateral deficiente, para quem não existe nada fora
dos estreitos limites de sua profissão. Por isso, longe de nos surpreender, nos parece natural que um amigo
médico não conheça nem de nome Menéndez Pelayo, ou um recém-formado advogado que pergunta se Corot foi
pintor ou romancista.

O egoísmo e a falta de um ideal nobre deram origem a essa geração de indiferentes. Já é hora de reagirmos
nesse sentido: é hora dos estudantes elevarem seus espíritos e compreenderem que sua missão não estará
cumprida, a menos que, lado a lado com as tarefas universitárias, não se preocupem em beneficiar, no sentido
literal da palavra, ao mesmo tempo, o meio social em que vivem.

Juventude, por definição, é força expansiva, curiosidade insaciável e energia renovada. Pois bem, a maior parte 
de nosso futuros doutores e engenheiros, todos jovens, necessitam dessas qualidades sagradas. E ainda que essa 
nossa afirmação pareça mentirosa, ela é verdadeira até que se mostre o contrário… Oxalá ela estivesse errada! 
Mas diante das evidências, é preciso se render, pois, como se manifestam essa força expansiva, essa curiosidade
 insaciável e essa energia renovada? Não se manifesta de nenhuma forma que evidencie a existência de
qualidades dignas, pois as economizam com o mesmo zelo avarento que os doentes economizam suas forças.

Há aqueles que, com um falso discernimento, pregam entre nós a conveniência da especialização, já que
segundo eles, as difíceis condições da luta pela sobrevivência a impõem. Dizem que é preciso se especializar
nesse ou naquele ramo do conhecimento humano desde os primeiros anos de faculdade, para que se possa
garantir condições de se manter, uma vez formado. O que quer que vá além desse tipo de atividade orientada, é
em vão, e consequentemente, perfeitamente inútil.

Essa pregação criminosa tem, infelizmente, dado frutos abundantes. Esses apóstolos espontâneos da cruzada
materialista poderiam realizar um trabalho mais nobre e necessário, exaltando as vantagens que os estudantes
universitários teriam se pensassem que, além dos interesses individuais, existe, segundo Ernest Renan, uma
profissão universal, que é a humanidade. E para ser humano é necessário possuir uma hábil curiosidade por tudo
aquilo que é humano junto com o corajoso desejo de intervir no trabalho coletivo.

Sim, existe uma importante tarefa extra universitária que o estudante é obrigado a realizar, não só porque um
indiscutível dever moral exige, mas também porque sua condição e sua cultura a impõem de modo imperativo.

O argumento da falta de tempo, expresso com habilidade pelos partidários da abstenção egoísta, é falso e está
recheado de adornos cafonas. Justificar desse jeito uma falha como essa é extremamente grosseiro. Nesse caso,
é melhor permanecer calado do que falar bobagens.

Os representantes universitários mexicanos, que chegaram há pouco tempo em Buenos Aires, nos informaram do
interessante fato de que em seu país os estudantes contribuem com entusiasmada espontaneidade para a
reorganização e o melhoramento da pátria. Enviam até mesmo comissões estudantis de três ou quatro jovens para
estudar nos Estados Unidos sobre o progresso dos órgãos públicos.

Esses mesmos universitários, aparentemente, tem tempo para tudo, pois não negligenciam seus estudos e realizam
facilmente seus exames finais de competência. Quando um ideal superior impulsiona e estimula os homens,
porque está arraigado em seu espírito, sobra tempo para cumprir os deveres fundamentais que ele supõe, sem
descuidar de todo o resto, igualmente importante.

Ariel abandona as almas dos jovens diante do brutal ataque de Calibã, o monstro. A voz harmoniosa de José
Enrique Rodó se perde, porque a juventude não a escuta nem a acolhe em seu ressonante coração. Hoje, a
maioria esmagadora dos estudantes universitários só se interessa em conseguir o quanto antes o sonhado diploma,
para conseguir trabalho, e nada mais…

São tempos encantadores!

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